sexta-feira, 15 de julho de 2016

Se cortar na tentativa de continuar vivendo

para atendimento ligue 11 


969828869

ViaFreud - dor - prazer - auto mutilacao - psicanálise
A automutilação ou cutting não tem como objetivo chamar a atenção, mas funciona como uma válvula de escape para aliviar o sofrimento. Esses pacientes acabam usando esse “analgésico” para dor emocional. Quanto mais cedo o seu transtorno for tratado, maiores são as chances de a prática não se repetir.
A automutilação ou cutting é reconhecida como um transtorno mental desde 2013, no DSM V. Estudos demonstram que a cada 5 adolescentes, 1 de automutila. É estranho pensar, mas quem se corta não sente dor e sim prazer, pois o corte libera endorfina. Endorfina é uma substância natural produzida pelo cérebro que regula a emoção e a percepção da dor, ajudando a relaxar e gerando bem estar e prazer. A endorfina é considerada um analgésico natural, reduzindo o estresse e a ansiedade, aliviando as tensões e sendo até recomendado no tratamento de depressões leves.
O mais importante é reconhecer a automutilação ou cutting como um transtorno mental que precisa de atenção e cuidado, por meio de uma avaliação psiquiátrica. Geralmente esse transtorno começa na adolescência, mas existem pessoas que começaram adultos a se automutilar. O objetivo dessas pessoas não é o suicídio, mas existe um grande risco. Por causa da angústia ou sofrimento mental eles podem exagerar na profundidade dos cortes.
Em casa, o apoio da família é essencial! Os pais tem o direito de não saberem todas as respostas, contudo é essencial que eles ofereçam aos filhos conforto, compreensão e juntos procurem ajuda de um profissional capacitado no assunto. A automutilação, muitas vezes, está relacionada a outros problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e transtornos alimentares.
Adolescentes, de uma forma geral, andam em grupos, porém os que se cortam costumam serem mais reservados. Alguns encontram nas redes sociais grupos que é uma maneira de pertencer a algo, onde eles compartilham seus cortes e suas angústias. A família precisa entender que é um problema e que existe tratamento.
Transtornos mentais, como a automutilação ou cutting devem ser tratados não apenas com medicação (psiquiatra), mas também com terapia (acompanhamento psicológico).
 https://apsicologianodiaadia.com/2016/06/07/se-cortar-na-tentativa-de-continuar-vivendo/

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Eu sei que amanhã vai passar, mas hoje está doendo muito…

Muitas vezes, não queremos ouvir ninguém nos dizendo que aquilo vai passar, que amanhã será um novo dia, que temos de ser persistentes, pois sairemos mais fortes daquilo tudo. Queremos apenas que alguém entenda a nossa dor e nos deixe sentir todo o amargor daquele momento doído.
Nossa primeira reação ao ver uma pessoa querida sofrendo é tentar lhe transmitir esperança, no sentido de confortar a sua dor. Para isso, costumamos encorajá-la a olhar para o futuro, dizendo-lhe que aquilo tudo tem algum propósito e ela ainda haverá de entender, que tudo o que nos acontece é útil e necessário, entre outras palavras de conforto.
Muitas vezes, porém, não queremos ouvir ninguém nos dizendo que aquilo vai passar, que amanhã será um novo dia, que temos de ser persistentes, pois sairemos mais fortes daquilo tudo.
Queremos apenas que alguém entenda a nossa dor e nos deixe sentir todo o amargor daquele momento doído, alguém que nos permita ser fracos e inseguros naquele instante, permanecendo ao nosso lado, se possível com um silêncio que acolha e transmita compreensão.
Todos sabemos que os tombos nos fortalecem e trazem aprendizados importantes ao nosso amadurecimento pessoal. Também sabemos que o tempo ameniza o sofrimento e traz novas esperanças, novos motivos para continuarmos sonhando nossos ideais de vida. Porém, no momento em que estivermos imersos na escuridão inconsolável, sentindo-nos a pior das pessoas, muito pouco nos adiantarão quaisquer palavras que tratem do futuro, porque o hoje estará nos aniquilando.
Isso não quer dizer que não precisaremos de gente ao nosso lado nos dando forças durante nossas misérias emocionais; isso quer dizer que precisaremos de alguém que, antes de tudo, demonstre entender o que estamos sentindo e nos permita passar por aquilo, até que o fundo do poço não mais nos caiba. Quem sofre precisa de consolo empático, precisa saber que o outro entende e vai deixá-lo sofrer o que tiver que ser seu até que consiga expulsar aquilo tudo de sua vida.
Então, quando as nuvens começarem a se dissipar, quando os raios de sol conseguirem alcançar o rosto de quem padecia na escuridão, aquele que esteve ali ao seu lado fará toda a diferença, ajudando-o a voltar ao caminho de ida, à jornada de busca da felicidade que com certeza ainda estará por vir. Caminhar junto é preciso, mas saber a quem dar as mãos enquanto se constroem os sonhos que sustentarão essa jornada determinará a qualidade de vida e de amor que levaremos em nossos corações.


Leia mais: http://www.asomadetodosafetos.com/2016/06/eu-sei-que-amanha-vai-passar-mas-hoje-esta-doendo-muito.html#ixzz4ELO0eijZ

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Você Já Se Acordou No Meio Da Noite e Não Conseguiu Se Mover? Ou Viu Algo Inexplicável? Saiba o Que Aconteceu.


Por Christina Sterbenz

O que é a paralisia do sono?

Todos os meses eu tenho uma experiência aterrorizante no meio da noite.
Eu acordo, mas não consigo me mover, exceto meus olhos. Sinto uma presença pesada sobre o meu peito, apertando o ar dos meus pulmões e garganta. Em seguida, uma figura encapuzada sombria começa a aparecer no canto da visão.
Eu não estou sonhando. E não importa quantas vezes isso acontece, o pânico se instala. Quando criança, eu pensava que o diabo vinha visitar meu quarto.
Agora eu sei que estes sintomas decorrem de um fenômeno do sono chamado paralisia do sono. Embora vários fatores sociais e psicológicos possam influenciar a prevalência da paralisia do sono, uma pesquisa de 2011 combinou 35 estudos com mais de 36.000 participantes. Os autores descobriram que 7,6% da população em geral tem experiencias de paralisia do sono, aumentando para 28,3% em grupos de alto risco, como os estudantes que têm um padrão de sono interrompido. E em pessoas com transtornos mentais, como ansiedade e depressão, 31,9% experiencia esses episódios.
“Quando você está experimentando uma paralisia do sono, você se torna consciente”, afirma Daniel Denis, doutorando em neurociência cognitiva e pesquisador do Projeto Paralisia do sono. “A ideia central é que a sua mente acorda, mas o seu corpo não.”

Por que você não consegue se mover?

O sono tem três ou quatro estágios de não-REM (movimento rápido dos olhos) e um estado de sono REM. Enquanto as pessoas podem sonhar em qualquer fase, a fase REM é mais intimamente associada aos sonhos vívidos, que se parecem reais.
O cérebro também permanece ativo durante o sono REM – “quase comparável à atividade do decorrer do dia”, explica Denis. As pessoas ficam naturalmente paralisadas durante o sono REM, provavelmente para impedir a reprodução dos movimentos do sonho, um processo conhecido como atonia REM. Na fase REM a atividade cerebral é parecida com a normal de quando se está acordado, mas nosso próprio cérebro paralisa os músculos, o que previne lesões de possíveis movimentos quando se sonha com uma partida de futebol ou com uma queda, por exemplo. Quando acordamos subitamente, o cérebro pode demorar a perceber que estamos despertos, o modo “paralisia do corpo” não é desativado. Ou seja, a pessoa fica acordada mas incapaz de se mover.


Muitos que acordam durante este estado simplesmente abrem os olhos e rapidamente voltam a se movimentar. Mas aqueles que sofrem uma experiência de paralisia do sono têm “uma espécie de falha no relógio molecular”, como coloca Denis. Por alguma razão, a atonia REM continua depois que você desperta. A maioria dos episódios duram alguns segundos a um minuto, mas em casos mais raros, a pessoa pode precisar de 10 a 15 minutos para recuperar totalmente os movimentos.
Sobre aquele meu amigo sombrio – os pesquisadores não têm as melhores explicações. Para começar, eu poderia estar experienciando a interpretação do meu cérebro de mim mesmo. Os lobos parietais podem estar monitorando os neurônios do meu cérebro, dizendo para meus membros se moverem, de acordo com um estudo da UC San Diego, publicado na revista Medical Hypotheses. Uma vez que não conseguem, o cérebro alucina o movimento pretendido.
Denis explica que o “invasor” também pode ser devido a uma amígdala super-ativa, a parte do cérebro responsável pelo medo (entre outras coisas). “Você acorda com a sua amígdala gritando: ‘Há uma ameaça!'”, Explica. “Portanto, o seu cérebro tem que inventar alguma coisa para resolver o paradoxo criado pela amígdala ativada sem motivo”.

10As experiências

Um dos primeiros estudos aprofundados sobre a paralisia do sono, em 1999, define as três categorias principais de alucinações na paralisia do sono como “pesadelo”, “intruso” e “experiências corporais incomuns”.
No primeiro caso, as pessoas sentem uma pressão intensa no peito, induzindo a sensação de que não conseguem respirar.
Como observam os autores, a paralisia do sono afeta apenas a “percepção da respiração”. Respirar é um reflexo-base, por isso, na realidade nada separa a pessoa do oxigênio. Ela só se sente assim porque está com medo.
“Quando você está em REM, sua respiração é muito rasa e suas vias respiratórias se tornam bastante restritas, por isso é difícil de respirar”, explica Denis. “Mas quando você se torna consciente disso, pode ser aterrorizante”.
As pessoas que experimentam a segunda categoria, o “intruso”, podem ter “um sentimento de presença, medo e alucinações auditivas e visuais”, observam os pesquisadores. Essencialmente, sua mente inventa uma visão para resolver algum paradoxo que ocorreu no cérebro durante a paralisia do sono. Os autores o descrevem como um “estado hiper-vigilante do mesencéfalo”, o que torna a pessoa consciente até mesmo dos menores estímulos e “tendem a interpretá-los como pistas de ameaça ou perigo”. É por isso que um pequeno som pode parecer horrível para alguém que experimenta uma paralisia do sono.
O ´´intruso´´ e o ´´pesadelo´´ caminham lado a lado. Ambos os sintomas normalmente envolvem os sistemas ativados na amígdala por ameaças, como mencionado anteriormente. Algumas pessoas se referem ao “intruso” e ao pesadelo, relatando que sentiram alguém estrangulando-as, diz Denis. Mas o terceiro tipo de alucinação na paralisia do sono, as “experiências corporais incomuns”, são as mais raras.
Quando a pessoa tem uma “experiência corporal incomum”, ela sente que está tendo uma experiência6
fora-do-corpo, levitando ou voando ao redor do quarto, como indica um estudo de 1999. Este terceiro modelo parece estar associado com estágios REM onde o tronco cerebral, cerebelo, e os centros corticais vestibulares são ativados, de acordo com um estudo de 133 pacientes com transtorno do pânico em 2013.
A ponte que inibe o movimento durante o sono, cai nessa etapa, observa Denis. “Você sente como estivesse se movendo, quando na verdade não está, porque a área do cérebro que coordena é hiperativa”, diz ele.

Mitos e folclore

As crenças culturais também influenciam fortemente essas alucinações e experiências, levando à criação de folclores e mitos que podem borrar verdade com ficção. Existem histórias fantásticas. Dê uma olhada numa pintura de 1781, de Henry Fuseli: “The Nightmare”, uma das mais claras interpretações artísticas da paralisia do sono.
Pessoalmente, a minha amígdala superativa evoca imagens do diabo – não me surpreende, considerando que eu cresci numa família cristã. A partir de sua pesquisa, Denis diz que “a cultura ocidental moderna” tende a ver assaltantes, estupradores e aliens.
Na cultura popular brasileira, originou a lenda da Pisadeira, segundo a qual, durante o sono, uma mulher lendária pisa sobre o peito da pessoa que está dormindo, enquanto esta vê tudo e não pode fazer nada.

Prevenção

Fatores como a falta de sono, distúrbios do sono, e trabalho em turnos podem aumentar a probabilidade de alguém ter uma paralisia do sono. Episódios de paralisia do sono têm sido associados à hipertensão, convulsões e narcolepsia (um distúrbio do sono em que a pessoa perde a capacidade de regular os ciclos do sono e pode adormecer em momentos inesperados).Enquanto o estresse, a ansiedade e a depressão muitas vezes desencadeiam os episódios, não podemos controlar esses fatores. Então, além de tentar reduzir o stress e começar a dormir mais, como você pode prevenir o aparecimento da paralisia do sono?Evitar dormir com a barriga para cima pode ajudar. A pesquisa mostrou que a probabilidade de um episódio de paralisia do sono é de três a quatro vezes maior em pessoas que dormem com a barriga para cima. Algumas pessoas usam pijamas para que fique desconfortável dormir com as costas contra o colchão, de acordo com Denis.Mas se apesar de tudo você acordar e se encontrar paralisado, concentre toda a sua energia em mexer um dedo do pé ou da mão. ´´Assim que você conseguir mover um músculo, quebra toda a paralisia”, aconselha Denis.
Fonte: BusinessInsider traduzido e adaptado por Psiconlinews 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Estou de luto: Meu animal de estimação morreu


11 DE ABRIL DE 2016


“Um animal de estimação reflete o afeto que investimos numa relação que nos ensina a ser generosos e a exercitar a capacidade de cuidar”. (Silvana Aquino)
Todos os seres vivos um dia irão morrer, portanto um dia você terá que dizer adeus ao seu animal de estimação. Infelizmente, a expectativa de vida dos animais, mesmo sendo eles muito bem tratados, é curta em relação ao tempo que o dono viverá. Por isso, é frequente os donos de animais de estimação terem que lidar com a morte de um ou mais animais ao longo da vida.
Os animais de estimação participam da vida cotidiana de várias famílias durante anos. Para muitas pessoas eles são verdadeiros companheiros, pois não criticam nem julgam; ajudam a amenizar o stress, pois estão sempre prontos para a brincadeira; e são uma fonte inesgotável de afeto e carinho, pois estão por perto, tanto nos momentos de alegria quanto nos momentos de tristeza. São por estas razões que as pessoas se apegam aos animais, criando laços profundos de afeição e amizade.
Elaborar a morte de um gato, cachorro, ou qualquer outro bichinho de estimação pode ser uma tarefa difícil. Estudos sobre as reações à perda de um animal de estimação mostram como é forte o apego desenvolvido. Usando o modelo da teoria de apego de Bowlby (citado em Archer, 1996), Parkes (citado em Archer, 1996) se referiu ao pesar de perder um animal de estimação como o custo de perder uma pessoa amada. O processo de luto envolve angústia, pensamentos e sentimentos que acompanham o lento processo mental de se despedir de uma relação estabelecida. Evidências sistemáticas indicam que há claros paralelos entre as variadas reações que as pessoas apresentam seguidamente à perda de um animal de estimação àquelas sentidas por uma perda de um relacionamento entre humanos (Archer, 1996). Provavelmente, você vivenciará as fases do luto, pois a dor da perda de um animal de estimação é a similar à dor causada pela perda de um ente querido, pois ocorre um rompimento de vínculo afetivo. (Bertelli, 2008).
Para Baydak, quando a perda está de acordo com as normas sociais, o luto individual é suportado pela rede social, o que facilita tanto o processo de luto quanto a coesão social. Quando isso não acontece, e a sociedade não reconhece e nem legitima o luto, as reações de estresse podem ser intensificadas, e os problemas relacionados ao luto podem ser exacerbados. Em caso de animais de estimação, normalmente frases como “Era só um cachorro…” mostram esse não reconhecimento. A morte do animal é tratada como um acontecimento trivial e de pouca importância. Baydak fala também que além do luto social não-autorizado existe o luto intrapsíquico não-autorizado. Nós internalizamos crenças, valores e expectativas sociais. Está implícito no comentário “Era só um cachorro…” que os animais não são dignos de luto e a noção de que há algo inerentemente errado com alguém que entra em processo de luto após a morte de um animal. Assim, quando um animal de estimação morre, muitos donos estão totalmente despreparados para a intensidade de seu luto, e ficam embaraçados e com vergonha dele. A sociedade tende a dar mais suporte à criança que perde um animal de estimação do que a um adulto. (Bertelli, 2008).
Eu tive a honra de entrevistar a Psicóloga Déria de Oliveira, uma estudiosa do assunto, sobre questões que permeiam este tema. Abaixo seguem os principais pontos da entrevista.
Por vezes os donos de animais de estimação sentem que não possuem “autorização” para chorar e se entristecerem pela morte de seu animal. Por que a nossa sociedade, em sua maioria, não considera que um indivíduo possa estar de luto pela morte de um animal de estimação? Este é um tipo de luto não autorizado?
O luto pela morte do animal de estimação, segundo Doka (1989) está na categoria dos lutos não autorizados, porque é uma perda não reconhecida pela sociedade. No entanto, os animais estão presentes em diversos arranjos familiares. Sendo assim, por que a perda do animal não teria passado a ser reconhecida pelas pessoas do mundo contemporâneo? A partir deste questionamento e de outros foi desenvolvida minha pesquisa para a tese de doutorado, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Helena Pereira Franco.
Dos 360 participantes que responderam à pesquisa disponibilizada na internet, 171 (47,5%) consideravam que o luto pelo animal é reconhecido pela sociedade e 189 (52,5%) responderam que a perda pela morte do animal não é aceita, porque para algumas pessoas o enlutado tem de ser comedido no luto e não pode deixar de comparecer aos seus compromissos laborais, escolares e outros.
O reconhecimento do luto do tutor do animal falecido, ou desaparecido, será facilitado se as pessoas que o cercam: a) forem empáticas; b) consideram o animal como integrante da família; c) formam ou formaram vínculo com um animal de estimação.
Em seu estudo, você se deparou com um dono de animal questionando-se sobre se ele tinha o direito de ficar de luto?
Sim. Foram realizadas entrevistas presenciais com seis enlutados, cujos animais tinham falecido há menos de 12 meses da data da entrevista. Dois entrevistados traziam muitas reflexões nesse contexto, pois estavam sofrendo muito pela morte do animal e as pessoas próximas diziam que não podiam ficar do jeito que estavam, ou seja, enlutados.
O processo de luto pela perda de um animal de estimação segue os mesmos padrões do processo pela morte de um humano? O dono do animal pode vivenciar as mesmas fases do luto?
Não diria que existe um padrão no processo de luto pela morte do ente querido, humano ou animal. Pode-se constatar que as reações tais como: negação, culpa, ansiedade de separação, raiva, entorpecimento, entre outras estão presentes em ambos os processos de luto, pois surgem diante da perda de um ser significativo; porém não ocorrem em uma sequência linear ou com presença obrigatória de todas as reações.
Quando um indivíduo vivencia uma perda que não é reconhecida ou socialmente apoiada ele pode vivenciar o luto complicado? 
Sim, porque geralmente o suporte social é um fator de proteção para luto complicado. Os rituais de despedida que estão presentes na morte do ente querido humano são praticamente ausentes na morte do animal de estimação. E muitas vezes, o enlutado ainda tem de ouvir: “era só um cachorro” ou outro animal. Uma das entrevistadas, cujo animal tinha morrido quatro meses antes da data da entrevista, disse que seu coração doía de saudade. Somente o enlutado conhece o significado que o animal tinha em sua vida, apenas ele é capaz de saber o quanto está doendo o que foi perdido.
Quanto tempo o luto pela perda de um animal de estimação pode durar?
Não existe um tempo determinado, o luto pode durar dias, semanas, meses ou anos. Dependerá da relação que o tutor tinha com o animal, da interação da díade, se existia vínculo ou não; da história de vida do tutor em relação às perdas que precederam a do animal; da causa da morte do animal, entre outros fatores.
Animal de Estimacao
(Bisteca morreu de câncer em 2011. Foto by Lilian Din Zardi)
O que fazer para amenizar a dor da perda?
É importante que o tutor reconheça a própria dor e busque apoio no seu grupo de convívio, no qual existe aceitação pela perda de animal. Aos poucos ele se reorganizará, com novas atividades e projetos, e, em alguns momentos de lembranças do animal falecido, poderá ter reações de pesar. Caso sinta necessidade, pode procurar também o atendimento psicológico.
Quando o animal está gravemente enfermo com uma doença sem possibilidade terapêutica de cura e a eutanásia é melhor opção, como lidar com a culpa?  Qual é a melhor forma de lidar com esse sentimento?
É recomendado que todas as dúvidas dos tutores fiquem esclarecidas pelo médico veterinário, antes de obter a autorização para a eutanásia, bem como seja permitida a presença dos tutores no momento do procedimento se eles desejarem. No entanto, estas condutas não garantem que os tutores não terão o sentimento de culpa. Uma das entrevistadas que passou por esse processo disse que foi a pior decisão de sua vida. Para Ross e Baron-Sorensen (2007), a opção pela eutanásia do animal pode ser a primeira vez que a pessoa considera a cessação da vida. A culpa pode estar presente mesmo que não tenha sido necessária a eutanásia. É uma das reações comuns diante da perda.
É difícil dizer qual a melhor forma de lidar com o sentimento de culpa de maneira generalizada, porque para cada díade tem uma questão singular do tutor, que costuma ser: “e se eu tivesse feito isso” ou “se eu não tivesse feito aquilo”. E, por fim, com frequência ele percebe que qualquer atitude em relação ao amado animal foi com o melhor dos propósitos. Algumas vezes, quando a autoacusação é constante e duradoura, com prejuízo das atividades, o atendimento psicológico é indicado.
Alguns escolhem ter um novo animal logo após a perda. Essa atitude ajuda na elaboração do luto? 
Depende da condição que ocorre a aquisição. Se não for para evitar lidar com a perda, e se for por própria vontade do enlutado, é uma atitude positiva no processo de luto, que permitirá que o enlutado se dedique às atividades com o novo animal, fazendo comparações saudáveis com o animal falecido. A atitude é negativa se não for desejo do enlutado. Quando imposta por terceiros, o enlutado poderá fazer comparações no sentido de que o animal falecido era muito melhor do que o atual, com rejeição total ao novo animal e até abandono.
E quanto às crianças, elas devem participar e ajudar no funeral do animal de estimação?
É relevante que a criança participe dos rituais de despedida do animal. Mas a criança deve ser respeitada se não quiser estar presente. Para Zawistowski (2008), a morte do animal pode ser sua primeira experiência de morte e os pais precisam ser honestos, evitando-se dizer que o animal foi colocado para dormir – a criança poderá ficar com medo de dormir – ou que fugiu – porque ela poderá ficar pensando o que teria feito para o animal fugir.
Em sua tese de doutorado, que foi sobre este tema, quais foram as suas principais conclusões? 
Mais da metade dos participantes considerava que o animal era integrante da família (56%) e que conviver com eles significava ter amor incondicional (51%).  Estas qualificações favorecem a formação de vínculos. Nesse contexto, o processo de luto pela morte do ente querido animal é autêntico e similar ao da morte do ente querido humano tanto nas reações de pesar, quanto nas formas de enfrentamento diante da perda.
A pesquisa on-line possibilitou a expressão de sentimentos em relação à perda do animal, apesar de não ser o objetivo do estudo para aquele momento; todavia com a falta de espaço que existe para o acolhimento dessa dor, tornou-se um instrumento que deu “voz” aos participantes. Alguns deles escreveram que se beneficiaram com a pesquisa e agradeceram. (Oliveira e Franco, 2015)
Sendo assim, o luto pela morte do animal de estimação, que não é considerado por muitas pessoas que não se vincularam com animais domésticos, também requer um olhar de reconhecimento da sociedade.
Você saberia nos informar se algumas clínicas veterinárias já oferecem suporte psicológico especializado para ajudar os donos a superar a perda?
Nos Estados Unidos, o oferecimento de suporte psicológico para os tutores enlutados, dentro das clínicas, hospitais veterinários e universidades é corriqueiro. No Brasil, pouquíssimos hospitais veterinários disponibilizam o atendimento com psicólogos dentro dos hospitais para os tutores de animais sem prognóstico de cura ou para ajudá-los a resgatar seus recursos para lidar com a morte do animal.
Como pudemos ver, a sociedade não oferece um espaço seguro para os donos de animais de estimação vivenciarem seu processo de luto. Felizmente, começam a ficar disponíveis alguns recursos para ajudar essas pessoas a perceberem que seu processo de luto é natural e merece ser validado. E nós como psicólogos, devemos sempre acolher este enlutado, independente de qual seja o contexto de sua perda, e oferecer-lhe escuta ativa e disponibilidade emocional para poder auxiliá-lo a ressignificar a perda sofrida.
Nazaré Jacobucci
Psicóloga Especialista em Luto
Member of British Psychological Society
Este post teve a colaboração da psicóloga Déria de Oliveira
deriaEntrevistada: Déria de Oliveira – Bacharelado em Administração. Psicóloga, Mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Especialista em Psicologia Hospitalar pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Pesquisadora voluntária do Projeto Pet Smile, terapia mediada por animais (2006-2010). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto – LELu (2010-2013).
fonte:https://perdaseluto.com/2016/04/11/estou-de-luto-meu-animal-de-estimacao-morreu/