REPORTAGEM TRANSPOSTA DA REVISTA PSIQUE Ed. 63 - 2011
Estresse: o mal do século
Sete em cada dez brasileiros reclamam de estresse no trabalho. Destes, pelo menos três sofrem da chamada síndrome de Burnout - esgotamento mental e físico intenso causado por pressões no ambiente profissional.
por Fátima Bittencourt
Muito se fala sobre o estresse, que vem sendo caracterizado como a doença do século XXI. Um levantamento realizado pela Associação Internacional do Controle do Estresse, ISMA (International Stress Management Association), revelou que o Brasil é o segundo país do mundo com níveis de estresse altíssimos. Pelo menos três em cada sete trabalhadores sofrem a síndrome de Burnout e não sabem. Resultado da soma de algumas respostas mentais e físicas, o estresse fisiológico, sem sobrecargas, pode contribuir de forma saudável para o crescimento e o desenvolvimento dos nossos ossos, músculos, cérebro e demais partes do corpo. Sua causa como doença, porém, está relacionada aos estímulos externos e à pressão a qual é submetida uma determinada pessoa e ao desgaste que ela pode sofrer sob esta pressão. Para atender a essa demanda de cura, normalmente os tratamentos são associados à medicação e atividade física relaxante.
O termo “estresse” designa desgaste e tensão, tendo sua origem na física. Sua rápida propagação no mundo pode estar associada ao fato de que, por milhões de anos, o ser humano foi se adaptando biologicamente a um estilo de vida diurno e não sedentário, além de um ritmo de mudanças muito mais lento do que encontramos nos dias atuais, especialmente nas grandes cidades. O excesso de ruídos, as luzes artificiais que nos mantêm acordados à noite, a falta de exercício, a poluição, os engarrafamentos, o excesso de informações e de preocupações são exemplos de fontes de estresse no mundo moderno para os quais o nosso corpo não se adaptou.
Muito embora estejam intimamente ligados, estresse, ansiedade e transtornos de ansiedade são conceitos diferentes. Ansiedade é um estado de alerta especial que desenvolvemos quando estamos em situações de estresse, com o objetivo de aumentar a nossa capacidade de adaptação a situações novas e potencialmente perigosas. O nosso corpo desenvolveu complexos mecanismos que integram funções cerebrais e hormonais para regular quando ativar e desativar uma resposta de ansiedade e qual o tipo e a intensidade de resposta será a mais adequada às situações que vivenciamos. Quando estes mecanismos não estão funcionando adequadamente, dizemos que há, então, um transtorno de ansiedade.
Os transtornos de ansiedade podem ter diferentes tipos de estresse em sua origem, tendo muitas das vezes como sintomas o transtorno de ansiedade generalizada, quando o indivíduo tem dificuldade de desativar o estado de ansiedade e passa a maior parte do tempo tenso e ansioso na expectativa de que algo ruim possa acontecer; além do transtorno obsessivo-compulsivo, quando a mente é invadida por pensamentos desagradáveis associados aos medos do indivíduo e muita ansiedade. Há, ainda, as fobias, que são fortes reações de ansiedade, e o medo paralisante, que pode impedir o indivíduo de lidar com a situação temida; a síndrome do pânico, caracterizada por ataques repetidos de ansiedade súbita com sintomas corporais fortes, como sudorese, falta de ar e medo de morrer ou de enlouquecer; e o transtorno de estresse pós-traumático, quando a pessoa revive repetidas vezes em sua mente situações traumáticas pelas quais passou.
Observamos, porém, que toda resposta fisiológica de ansiedade ao estresse é autolimitada e feita para durar pouco tempo. É por isso que o excesso de estresse pode levar a tantos problemas de saúde, como pressão alta, gastrite, cólon irritável, depressão, pânico, alcoolismo e muitas outras doenças. O excesso de estresse também já foi associado a um maior risco de se desenvolver câncer, doenças autoimunes, asma, fibromialgia, fadiga crônica, doenças cardíacas, dermatológicas e baixa imunidade; podendo estimular, ainda, o desenvolvimento da síndrome de Burnout, distúrbio psíquicos de caráter depressivo, ainda pouco conhecido pela população. De acordo com Herbert J. Freudenberger, a síndrome de Burnout é “um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.
Os efeitos
A síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento físico, é uma doença gerada pelo grau mais elevado do estresse, caracterizada pelo esgotamento mental intenso causado por pressões no ambiente profissional, que leva ao esgotamento total do paciente e atinge três em cada dez trabalhadores do País. O portador dessa doença muitas vezes não sabe que a possui e passa a medir sua autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional. Ssendo assim, sente a necessidade de se afirmar, transformando em obstinação e compulsão o desejo de realização profissional. Este fenômeno pode estar ligado à ideia de que ser um workaholic – pessoas que vivem para o trabalho – se tornou status para a maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades, nas quais o número de estressados é maior, e como consequência, a probabilidade do surgimento da síndrome é aumentada.
Embora a doença esteja diretamente ligada ao campo profissional, o seu desenvolvimento não se restringe apenas à profissão. Um indivíduo pode trabalhar muito, mas ter uma relação saudável com o trabalho. Os profissionais de alto rendimento, alta responsabilidade e competitividade, como médicos, professores, corretores, enfermeiros, estão mais propensos a desenvolver a síndrome de Burnout e o mercado de trabalho das grandes metrópoles, extremamente competitivo, é cenário perfeito para que muitos profissionais acabem sucumbindo à doença.
Sendo assim, no combate a essa doença, que quando não cuidada pode até levar à morte, pequenas mudanças no cotidiano podem ser fortes aliadas, tais como: alimentação balanceada, praticar atividades físicas, ter um hobby, manter relações sociais e integração familiar. Apesar da simplicidade dessas recomendações, poucos são os trabalhadores de hoje que podem segui-las.
O principal sintoma da síndrome de Burnout é a sensação de ter sido consumido pelo estresse, de estar esgotado e sem energia. Vários outros sintomas são comuns, como sono ruim, cansaço, dores no corpo; lapsos de memória; dificuldade de concentração; irritabilidade; desesperança; tristeza e transtorno de humor; esgotamento profissional que corresponde ao colapso físico e mental; avaliação negativa de si mesmo; depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos; descaso com as necessidades pessoais (comer, dormir e sair com os amigos); recalque de conflitos, em que o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema; discriminação pelos colegas de trabalho. Cinismo e agressão também são bastante evidentes.
Sintomas do Estresse
Físicos:
• Indigestão;
• Dores de cabeça;
• Alergias;
• Insônia;
• Mudança de apetite;
• Esgotamento físico;
• Gastrite;
• Taquicardia e outros.
Psicológicos:
• Memória fraca;
• Desmotivação;
• Autoritarismo;
• Introspecção;
• Isolamento;
• “Tiques Nervosos” e outros.
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