O marido que cerceia o crescimento profissional da mulher. A mãe que faz o impossível para o filho não sair de casa. O chefe que não permite ao empregado crescer dentro da empresa. A namorada que exige do parceiro 24 horas de dedicação incontestável e absoluta. A esposa que prefere deixar o marido alcoólatra beber em casa a ir ao bar. O avô que paga ao traficante as dívidas do neto. São exemplos genéricos, mas clássicos, de como a co-dependência --depender da dependência do outro em relação a si mesmo-- está tão profundamente enraizada no convívio social e familiar.
Originalmente, o termo co-alcoólatra foi designado para caracterizar as mulheres de alcoólatras, que, na década de 70, passaram a fazer reuniões paralelas às que seus maridos freqüentavam no AA (Alcoólicos Anônimos). Nesses grupos, elas perceberam possuir um denominador comum: toda a sua vida familiar girava em torno do dependente.
Uma pesquisa constatou que 97% das mulheres de alcoólatras preenchem o diagnóstico de co-dependência e possuem algum distúrbio de ansiedade (síndrome do pânico, fobia social). De acordo com Sergio Nicastri, coordenador do Programa Álcool e Drogas do hospital Albert Einstein, temendo perder o controle do sujeito subordinado, o co-dependente chega até a comprar ou pagar o vício do dependente. "Por isso existe a necessidade de tratar tanto o alcoólatra como a sua família", explica.
Para a psicanalista Lygia Vampré Humberg, a co-dependência deve ser encarada como uma doença crônica --assim como diabetes e hipertensão. "Portanto exige contínua vigilância" São nos grupos de auto-ajuda, como o Coda (Co-dependentes Anônimos) e o Mada, que os freqüentadores se descobrem controladores compulsivos e percebem que o que procuram são relacionamentos sofridos.
Sob o lema "Aprender a desenvolver relacionamentos saudáveis", os Co-dependentes Anônimos seguem a mesma cartilha do AA: viver um dia de cada vez sob alguns "mandamentos", como --e principalmente-- colocar-se em primeiro plano. Sempre.
Folha de São Paulo/ ANA PAULA DE OLIVEIRA
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