quinta-feira, 28 de julho de 2011

Transtorno de Jogo Patológico

Neurose obssessiva-compulsiva



Incluído em 22/05/2006

O Transtorno de Jogo Patológico vem ganhando importância crescente, uma vez que sua prevalência tem aumentado em diferentes países, principalmente como conseqüência da maior disponibilidade de jogos de azar. Além de apostas tradicionais como loterias, corridas de cavalos e jogos de carta, novos jogos têm sido introduzidos no mercado como casas de bingo, jogos eletrônicos e mesmo através da Internet.

No Brasil, as pesquisas sobre Jogo Patológico ainda são acanhadas e o tema ainda é tratado como certo tabu. Isso decorre, talvez, do fato de nosso país não ter tradição no setor de jogos. Aqui os jogos de azar tornaram-se mais acessíveis à população mais recentemente, depois da legalização do jogo de Bingo.

Em países onde a atividade é regulamentada há mais tempo, a observância do problema é bem mais intensa. O próprio setor que opera atividades de jogos tem a incumbência de bancar programas e entidades de prevenção e tratamento do Jogo Patológico. Nos Estados Unidos existe um excelente programa de Jogo Responsável (politicamente mais correto do que falar em Jogo Patológico), bancado pelos operadores de cassinos.

Embora se saiba há muito tempo que a atitude de jogar compulsivamente é uma séria alteração do comportamento, seu caráter mórbido ou patológico só foi considerado a partir de 1980. Nessa época o Jogo Patológico passou a ser classificado e reconhecido como transtorno psiquiátrico através de sua inclusão na classificação da Associação Americana de Psiquiatria (DSM.III, Manual Diagnóstico Estatístico de Doenças Mentais, 3ª. Edição). Para esse manual de diagnóstico o Jogo Patológico pode ser definido como comportamento recorrente de apostar em jogos de azar, apesar de conseqüências negativas decorrentes dessa atividade. O indivíduo perde o domínio sobre o jogo, tornando-se incapaz de controlar o tempo e o dinheiro gasto, mesmo quando está perdendo.

Para a Organização Mundial da Saúde o Jogo Patológico passou a ser reconhecido como doença somente a partir de 1992 e, por definição, em linhas gerais, se caracteriza pela incapacidade da pessoa em controlar o hábito de jogar, a despeito de todos inconvenientes que isso possa estar proporcionando, tais como problemas financeiros, familiares, profissionais, etc.

Segundo a psicóloga Maria Paula Magalhães Tavares de Oliveira, do Ambulatório de Jogo Patológico da Unifesp, o jogo começa com pequenas apostas, normalmente na adolescência, mais freqüentemente entre os homens.

O Jogador
Para pessoas que não têm ou não conhecem o problema, a questão intrigante é: o que leva a pessoa a ficar horas e horas envolvida com a mesma atividade de forma tão obsessiva? O que leva a pessoa a postar-se incansavelmente, durante horas, diante da uma mesa de cartas, da roleta, do bingo ou na frente de uma máquina eletrônica? Que força misteriosa é essa que parece obrigar pessoas a analisarem seus sonhos para jogar no bicho, ou estudar o comportamento de cavalos nos diferentes tipos de terreno para fazer a melhor aposta possível?

Neste sentido o jogador compulsivo pode ser comparado a um viciado em trabalho, ou em comprar compulsivamente, na obsessão pelo sexo, ou pela internet, ou em tantas outras atividades comportamentais que fogem ao controle. O jogador compulsivo tem reações parecidas aos alcoolistas ou dependentes químicos, tanto na sensação de prazer como no comportamento. Jogar, para essas pessoas, ativaria circuitos cerebrais que provocam um prazer semelhante ao das drogas, e a atitude geral do dependente do jogo, tal como nos casos de alcoolismo e drogas, acaba promovendo a exclusão de outras áreas da vida.

O intervalo de tempo entre começar a jogar e a perder o controle sobre o jogo varia de 1 a 20 anos, sendo mais comum num período de cinco anos. Maria Paula, citando Custer, descreve três fases no comportamento de jogar:

1. - Fase da Vitória:
Nessa fase a sorte inicial é vai sendo rapidamente substituída pela habilidade no jogo e as vitórias tornam-se cada vez mais excitantes. Aumenta a freqüência com que a pessoa procura o jogo e manifesta um otimismo não-realista. Os valores das apostas vão aumentando progressivamente e a perda passa a ser mais sofrível;

2. - Fase da Perda:
A característica dessa fase é o aumento de tempo e dinheiro gastos com o jogo, bem como o afastamento da família. Começa a perder. Agora, normalmente o dinheiro ganho no jogo é utilizado para jogar mais, podendo comprometer todo salário, economias e poupanças;

3. - Fase do Desespero:
A característica principal nesta fase é o aumento de tempo e dinheiro gastos com o jogo e o afastamento da família. Surge o pânico, uma vez que o jogador percebe o tamanho de sua dívida, seu desejo de pagá-la prontamente, o isolamento de familiares e amigos, a reputação negativa que passou a ter na sua comunidade e, finalmente, um desejo nostálgico de recuperar os primeiros dias de vitória.

É a percepção das conseqüências, e esses fatores pressionam o jogador a jogar ainda mais, na esperança de ganhar uma quantia que possa resolver todos esses problemas. Alguns passam então a utilizar recursos ilegais para obter dinheiro. Nessa fase, é comum a exaustão física e psicológica, sendo freqüente a depressão e pensamentos suicidas.

A Personalidade
Jogo Patológico é um transtorno psiquiátrico ao qual se reputa importante participação de fatores de personalidade. A personalidade dos jogadores patológicos, bem como a personalidade de outras pessoas portadoras de Transtornos do Espectro Impulsivo-Compulsivo, tem alguns traços em comum, principalmente a inclinação natural para a compulsão e impulsividade.

O jogador patológico é obstinado e perseverante, dificilmente aceita perder e diz que joga para se divertir. Na maioria das vezes essas pessoas aparentam ter dificuldade de prever conseqüências dessa compulsão, ou talvez neguem (como Mecanismo de Defesa) a eventual obviedade da situação desfavorável, fantasiando que subitamente a sorte haverá de mudar.

Nos casos de dependência franca o jogador faz cálculos absurdos das contas de apostas e não admite que esteja perdendo. Quando a pessoa começa a mentir para os familiares sobre estar ou não envolvida com o jogo é preciso procurar ajuda.

Ao perceber o tamanho de sua dívida o jogador ou jogadora pode se desesperar. Embora ele tenha vontade consciente de pagar suas dívidas, de recuperar a convivência familiar harmônica e a reputação junto aos amigos, não consegue controlar o impulso de jogar ainda mais. Nessa fase, por desespero, alguns jogadores ou jogadoras passam a utilizar recursos ilegais para obter dinheiro, ficam fisicamente exaustos e podem apresentar depressão e pensamentos suicidas.

Uma das principais características do Jogo Patológico é que, apesar das graves conseqüências que possa estar provocando, incluindo o risco de separação conjugal, demissão, graves perdas econômicas, envolvimento com a justiça, entre outros, os jogadores(as) têm muita dificuldade em controlar o impulso de jogar, em admitir a existência e o tamanho do problema e a pedir ajuda. É por isso que, normalmente, a aderência ao tratamento costuma pouca ou nenhuma.


Texto retirado do site Psiqweb.

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