quarta-feira, 13 de julho de 2011

A ciência do sonho.

Novos livros e estudos ajudam a decifrar seu significado e mostram como isso pode melhorar a nossa vida

por Jones Rossi e Juliana Tiraboschi
ilustrações Estúdio Mopa

É fato que os sonhos sempre intrigaram e foram objeto de estudo, mas o que está acontecendo agora é que eles estão sendo levados mais a sério por neurologistas, psicanalistas e biólogos. Enquanto a biologia procura explicar quais são as estruturas cerebrais envolvidas, a psicanálise se põe a investigar seu conteúdo. Da união dessas duas disciplinas nasceu a neuropsicanálise, uma tentativa de entender os aspectos físicos e psíquicos do sonho.

Nos últimos 50 anos, apesar de a ciência entender cada vez mais como nosso cérebro funciona quando estamos dormindo, os sonhos foram tratados como um subproduto do sono. Em 1983, o britânico Francis Crick, famoso por descobrir a estrutura do DNA, e seu colega Graeme Mitchison publicaram um trabalho afirmando que os sonhos funcionavam como uma espécie de lixeira virtual, descartando todas as memórias "inúteis" acumuladas durante o dia. Era o ápice da negação aos estudos do austríaco Sigmund Freud (1856-1939) - pai da psicanálise e autor de livros como A Interpretação dos Sonhos -, que ocorria desde o começo da década de 50.

Os estudos que vêm sendo publicados desde a virada do milênio e os novos livros programados para chegar às prateleiras neste ano reabilitam os pensamentos de Freud. Para ele, as imagens durante o sono simulavam nossos desejos e nos protegiam contra a dor e os traumas passados. Essas pesquisas também defendem a utilidade dos sonhos em ajudar a resolver problemas do cotidiano e organizar ideias.

FREUD ESTAVA CERTO?
Na avaliação de Carey Morewedge, professor assistente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Carnegie Mellon, EUA, a verdade sobre os sonhos se encontra em uma intersecção das três teorias predominantes sobre eles: a freudiana; a de que sonhos servem para consolidar memórias e aprendizado; e a crença de que suas imagens são totalmente aleatórias. "É provável que haja um pouco de verdade em cada uma delas", diz.

"Freud acertou no que viu e no que não viu. A gente cada vez mais resgata a obra dele", afirma o brasiliense Sidarta Ribeiro, Ph.D. em neurobiologia, doutor em neurociências pela Universidade Rockefeller com pós-doutorado pela Universidade Duke, EUA, e idealizador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), ao lado de Miguel Nicolelis, doutor em neurofisiologia pela USP, professor de neurobiologia na Duke e cotado ao prêmio Nobel de Medicina deste ano.

A dupla defende que os sonhos têm relação direta com o nosso dia a dia. "Eles estão ligados de uma maneira forte com aquilo que está acontecendo ao sonhador. Um exemplo: a gente sabe que pessoas que estão experimentando uma crise no casamento sonham bastante com isso", afirma Sidarta.

Luciano Ribeiro Pinto Júnior, neurologista e pesquisador da disciplina de medicina e biologia do sono da Unifesp, concorda. "Você sonha com coisas que viveu durante o dia. Imagine uma pessoa que encontrou um conhecido e sonhou com um contato sexual com essa pessoa. Juntou um desejo, uma emoção, a uma memória. A pessoa em questão pode representar alguma coisa ou ser só um instrumento para realizar o desejo."

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