sábado, 16 de julho de 2011

Sessão psicanalítica simulada, como uma tentativa de ilustração da psicanálise como técnica terapêutica: com explicações e termos técnicos em parêntes



Um homem de 37 anos , profissional liberal, procura um psicanalista por não ter boas relações com seus colegas, problemas com a esposa e filhos com os quais briga por motivos insignificantes e ultimamente sente que não consegue concentrar-se no trabalho o que por momentos o preocupa intensamente. Já leva 7 meses de análise, três vezes por semana.

Entra na sala de consulta, estende a mão e cumprimenta como de costume, rapidamente deita no divã e diz: " Doutor , o senhor parece cansado , e não muito bem humorado" (projeção). Tive um sonho em que eu me via velho, bem velho, e pensei que a morte estava quase por aí".

Terapeuta: É , ... e o senhor acha que sou eu quem está cansado e mal humorado...cada vez que reaparecem seus sentimentos de frustração vê a todo o mundo desse jeito, me incluindo nessa sua visão do mundo (interpretação da transferência).

Paciente: Bem , é verdade, (irritado) mas será que o senhor não pode estar nem cansado nem mal-humorado? (transferência negativa e resistência).

T.: Está se perguntando se eu, tão velho como seu pai, poderei realmente ajudá-lo?

P.: O senhor sabe que não é tão velho assim. (a transferência muda para um aspecto mais positivo e se corrige o vínculo), e agora vem aí outra vez meu pai, que era um verdadeiro carrasco, não consigo esquecer (regressão).

T.: Agora o carrasco sou eu (assume o papel paterno infantil) que o incomoda com o que falo.

P.: E que o senhor me leva a lembrar coisas que já tinha esquecido (estão no inconsciente) e que quero manter esquecidas (repressão) ainda que na verdade vejo alguns de meus colegas como inimigos (deslocamento), apesar de que começo a ver que não é bem assim (elaboração e mutação objetal).

T.: Parece que virei um pai menos severo e que pode ajudar (o analista está satisfeito com a evolução da sessão, e interpreta usando sua contratransferência positiva).

P.: Me pergunto se meu pai era realmente tão ruim (nova mutação objetal interna , ainda dentro da regressão). Gostaria sim de mudar meu comportamento com a minha família (procura usar outros mecanismos de defesa , menos conflitivos e mais livres da pressão do seu Superego).

Esta sessão simulada dificilmente poderia acontecer. Se trata de um brevíssimo exemplo para ilustrar, resumidamente, alguns dos elementos do texto deste trabalho, eminentemente simples com propósitos de divulgação.
Se faz aqui necessário destacar que a psicanálise é muito mais do que o aqui escrito.
Por , Maurício Knobel - Professor Emérito da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas-S.P.

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