segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Luto e melancolia



"O trabalho de luto consiste, assim, num desinvestimento de um objeto, ao qual é mais difícil renunciar na medida em que uma parte de si mesmo se vê perdida nele” Mannoni (1995).

De acordo com Freud (1916), o trabalho de luto se realiza, de forma que toda libido é retirada das ligações com objeto amado, a realidade mostra que esse objeto não existe mais. Porém as pessoas nunca abandonam de boa vontade uma posição libidinal, nem mesmo na realidade quando encontra um substituto. Existe um período considerado necessário para a pessoa enlutada passar pela experiência da perda. Esse período não pode ser artificialmente prolongado ou reduzido, uma vez que o luto demanda tempo e energia para ser elaborado. Costuma-se considerar que o primeiro ano é importantíssimo para que a pessoa enlutada possa passar, pela primeira vez, por experiências e datas significativas, sem a pessoa que morreu (Kaplan 1997). Por outro lado, não podemos tomar isto como uma regra fixa, há muitos fatores que entram em cena, quando se trata de avaliar as condições do enlutado, seus recursos para enfrentar a perda e as necessidades que podem se apresentar. Para cada enlutado, sua perda é a pior, a mais difícil, pois cada pessoa é aquela que sabe dimensionar sua dor e seus recursos para enfrentá-la.

Para Freud e Melanie Klein uma das formas da pessoa liberar-se do luto é tendo a prova da realidade. Neste período a pessoa conseguirá se desligar e canalizar a libido para outro objeto.

Segundo Melanie Klein (1981), a dor sentida no lento processo do teste da realidade durante o trabalho penoso de luto parece ser devido, em parte, não somente à necessidade de renovar os vínculos com o mundo externo, mas também sim reexperimentar continuamente a perda, reconstruindo angustiosamente o mundo interno, que se sente estar em perigo de deterioração e colapso.

Entretanto Freud (1916), suspeita de que algumas pessoas, ao passar pela mesma situação de perda, em vez de luto, produzem melancolia, sendo esta uma disposição patológica do individuo. Para justificar essa premissa, o autor fez uma série de comparações entre o luto e a melancolia, tentando mostrar o que ocorre psiquicamente com o sujeito em ambos o caso.

Andréia Miglioranza Marin= Ou seja, a melancolia é o luto patológico.

Freud, o trabalho de luto consiste principalmente no teste da realidade, ou seja, restabelecendo o contato com o mundo real, descobre e redescobre que a pessoa amada não existe mais.

Certas características do indivíduo podem fazer com que o processo de luto se torne patológico, o que para Freud (1916) era a melancolia, similar ao luto, mas de caráter patológico.

Conforme Freud (1916), no luto, há uma perda consciente. Na melancolia, a pessoa sabe quem perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém. "A melancolia está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito da perda”.

“Os traços mentais distintivos da melancolia são um desanimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo, a perda da capacidade amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão de recriminação e auto-envelhimento, culminando numa expectativa delirante de punição” Freud (1916). Ainda citando Freud, (1916) o melancólico pode apresentar características de mania. “... o maníaco demonstra claramente sua liberação do objeto que causou seu sofrimento, procurando, como um homem vorazmente faminto, novas catexias objetais”.Ou seja, há uma busca indiscriminada de outros objetos nos quais o indivíduo possa investir.

O que se poderia dizer afinal é que, a pessoa melancólica coloca a si própria como culpada pela perda do objeto amado. Talvez a grande diferença entre o luto e melancolia para Freud é que no luto o mundo torna-se pobre, vazio e inexpressivo e na melancolia é o próprio ego”.Os sentimentos negativos são expressos contra o self, e a pessoa se torna deprimida, em Freud(1916)”O paciente representa seu ego para nós como se fosse desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível...".

Nenhum comentário:

Postar um comentário