terça-feira, 13 de setembro de 2011

Parte1- Artigo sobre perversão escrito por Geraldino Alves Ferreira Netto


Perversões ou Perversão
Geraldino Alves Ferreira Netto


O conceito de perversão era usado na Psiquiatria para catalogar comportamentos sexuais desviantes da norma. Freud designou como perversão uma posição subjetiva direcionada ao desmentido da castração. Segundo Lacan, a perversão é, sobretudo, um fato de linguagem.

Palavras-chave: perversão; psicanálise; linguagem.

Perversions or perversion

The concept of perversions was used in Psychiatry to list sexual behaviors turning aside from the normal course. Freud called perversion a subjective position toward the disavowal of castration. According to J. Lacan, perversion is more a fact of language.
Key-words: perversion; psychoanalysis; language.

Entre os muitos conceitos complexos e difíceis de definir, na teoria psicanalítica, o de perversão ocupa um dos primeiros lugares, gerando equívocos e ambiguidades, seja pela abordagem médica e psiquiátrica com que é geralmente tratado, seja pela contaminação moralista ou religiosa de que dificilmente consegue escapar. Isto sem falar de outro vício comum mesmo em publicações psicanalíticas, que consiste em identificar a perversão com a homossexualidade, fazendo desta última uma suposta estrutura clínica.

O termo perversões, no plural, surgiu na psiquiatria e na sexologia, designando uma série de práticas sexuais consideradas desviantes com relação à norma social ou moral, ora num sentido pejorativo, ora positivamente valorizadas.

A partir de 1850, os manuais de psiquiatria elaboraram a primeira lista oficial das perversões com os seguintes itens: incesto, homossexualidade, zoofilia, pedofilia, pederastia, fetichismo, sadomasoquismo, transvestismo, narcisismo, autoerotismo, coprofilia, necrofilia, exibicionismo, voyeurismo, mutilações sexuais.

A entrada em cena da psicanálise, pela porta da histeria, fez com que Freud elaborasse minuciosamente e dominasse com bastante segurança a teoria das neuroses. Entretanto, e consequentemente, a compreensão do fenômeno neurótico trazia em seu bojo, pelo lado avesso, o conceito de perversão, já agora no singular. Assim, em 1897, em carta a Fliess, Freud fez a famosa afirmação de que a neurose é "o negativo da perversão". Entendia, com isso, que tudo o que o neurótico recalca é justamente aí que o perverso acentua o caráter bárbaro, polimorfo e pulsional de uma sexualidade infantil, em estado bruto, que não respeita devidamente a interdição do incesto, nem o recalque, nem a sublimação. Freud adota o conceito de perversão ainda como desvio sexual em relação a uma norma, embora desprovido de qualquer conotação pejorativa ou valorativa, fundando aí o trio das estruturas clínicas:

a neurose, novo domínio incontestável da psicanálise;
a psicose, tradicional domínio da psiquiatria;
a perversão, campo antes dominado pelo direito e pela sociologia, como perversões.
O conceito psicanalítico de perversão propriamente dito só foi elaborado depois que surgiu a teorização sobre as pulsões, em substituição aos instintos. Assim, as perversões, ligadas aos instintos, apontam para desvios, aberrações e inversões na função biológica, partindo do pressuposto de que o objetivo da sexualidade é a reprodução, cujo objeto é definido. Já a perversão, no rastro da pulsão, cujo objeto é indefinido e que aposta na finalidade de obter prazer na sexualidade, designa uma posição subjetiva diante da castração e da lei.

Na história da humanidade, as perversões sempre ocuparam um lugar de destaque nas artes, tanto no Oriente como no Ocidente, com variações e nuances de acordo com cada época, cada país ou cultura, acompanhando os costumes. Ora eram marginalizadas pela sociedade e pela religião, ora eram altamente valorizadas na literatura, na poesia, na filosofia, como superiores às práticas ditas normais.

Ainda hoje, por exemplo, a mutilação sexual feminina (excisão e infibulação) é aceita e praticada em algumas regiões da África, com a finalidade de abolir o desejo e o prazer sexual das mulheres, ao mesmo tempo em que é considerada um crime na Europa. Na China ainda se pratica o genocídio infantil feminino, com a finalidade de controlar o aumento da população feminina, considerada improdutiva. A emasculação dos homens no Antigo Egito e na Índia foi aceita ou não, dependendo de circunstâncias históricas. O próprio cristianismo produziu seus eunucos, para garantir a harmonia melodiosa dos sopranos masculinos, nos corais das catedrais.

Na Grécia Antiga, a homossexualidade era a forma suprema do amor desinteressado, cantada em prosa e verso n’O Banquete de Platão. No cristianismo, ela é considerada vício e pecado ainda hoje. Na psiquiatria do século passado, era uma degenerescência.

E mais recentemente, em 1974, alguns países democráticos começaram a incluir em sua legislação o casamento entre homossexuais, com todos os direitos contratuais, até mesmo permitindo a adoção de filhos e as garantias de herança e de bens. No Brasil, começa um movimento reivindicatório nessa direção.

Continuação amanhã XD

Texto retirado do site: http://www.psicanaliseemcurso.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário