quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Parte 2- Continuação do artigo de ontem: Perversões ou Perversão por Geraldino Alves Ferreira Netto




Continuação do artigo de ontem..

Perversões ou Perversão
Geraldino Alves Ferreira Netto

Em Freud, sobretudo no início, a teoria da perversão e da homossexualidade ressente-se da mesma ambiguidade que caracterizou sua visão sobre a sexualidade feminina. Por um lado, ele rejeita qualquer ideia de tara ou degeneração na perversão, quando aplica a todas as pessoas, especialmente na infância, a "disposição perversa polimorfa". Por outro lado, conserva a ideia de norma e desvio na sexualidade, que só aos poucos vai se arejando.

A partir de 1905, aquele mesmo Freud que era admirado e cumprimentado nas ruas de Viena, por causa de suas teorias sobre a interpretação dos sonhos, passa a ser malvisto, após a publicação de seus ‘escandalosos’ ensaios sobre a teoria da sexualidade, especialmente a infantil, teoria essa que foi um dos lampejos mais profundos, fecundos e clarividentes que já se produziram a respeito dessa singela criatura chamada criança. Reutilizando o plural ‘perversões’, o mestre distingue dois tipos: as perversões de objeto e as perversões de objetivo.

O objeto da sexualidade pode ser:

O humano (incesto, homossexualidade, pedofilia, autoerotismo);
O não-humano (fetichismo, zoofilia, transvestismo).

Com relação ao objetivo da sexualidade, há três tipos de prazer:

O visual (exibicionismo, voyeurismo);
O de sofrer ou fazer sofrer (sadismo, masoquismo);

A superestimação exclusiva de uma zona erógena, como a boca (felação) ou o aparelho genital.

Nenhuma dessas práticas sexuais é intrinsecamente perversa. Desde que produza prazer, o ato é simplesmente uma forma a mais dentro do polimorfo. A designação de perversão é extrínseca ao ato em si, e é definida pela exclusão de outras práticas prazerosas. O ato seria então perverso não pelo que se faz, mas pelo que se deixa de fazer. E foi justamente neste ponto que Freud levantou a dúvida cruel, assinalada em nota de rodapé, se a heterossexualidade, quando praticada com exclusividade, não seria também classificável como perversão.

De 1915 em diante, com a metapsicologia e, depois, com a segunda tópica, Freud dá o passo decisivo das perversões para a perversão como paradigma da organização do ego, baseado no conceito de clivagem.

De 1923 a 1927, Freud busca desesperadamente um mecanismo que dê conta da psicose e da perversão. Nos textos sobre "A organização genital infantil", de 1923, "A perda da realidade na neurose e na psicose", de 1924, "A negação", de 1925, "Inibições, sintomas e angústia", de 1926, e "Fetichismo", de 1927, introduz o conceito de Verleugnung, ou desmentido, mostrando que as crianças negam a realidade da falta de pênis na menina. Neste momento, este mecanismo de defesa caracteriza a psicose, pela negação da realidade, enquanto que, na neurose, há o recalque das exigências do id.

Entretanto, para chegar à Verleugnung, foi necessário um longo percurso. Em 1927, Freud entra em contato com o francês René Laforgue, o qual já havia citado em alguns dos textos acima, e com quem discute sobre o conceito de escotomização, surgido de um outro conceito utilizado de 1895 a 1917, que era a alucinação negativa.

Texto retirado do site: http://www.psicanaliseemcurso.com.br

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