quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tique nervoso

Neuropsicologia
Tique nervoso é muito mais que um cacoete
Ainda não se descobriu um remédio que acabe definitivamente com os sintomas dos cacoetes. Mas existe a possibilidade de, por meio de tratamento, se reduzir essa sintomatologia

Por Marta Relvas




Texto retirado da Revista Psique Ed. 82 - 2012
imagem: shutterstock
O tique nervoso, vulgarmente chamado de cacoete, pode ser uma síndrome conhecida como Gille de la Tourett e ou até mesmo ser confundido com um Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), pois é comportamento sistemático e involuntário que faz parte do cotidiano para quem sofre com esse problema. As causas podem ser múltiplas, como transtorno neurobiológico, neuroquímico, neuropsicológico, afetivo e emocional, ou seja, um transtorno neurocomportamental, pois apresenta uma disfunção neurológica-neuroquímica que reproduz um comportamento repetitivo. O cacoete, geralmente, surge na infância, até os sete anos, e pode regredir com o amadurecimento. A tendência dos pais é reprimir os tiques, atitude que provoca mais tensão na criança e que não é indicada por especialistas. A família deve procurar ajuda profissional.
Ainda não se descobriu um remédio que acabe definitivamente com os sintomas. Mas existe a possibilidade de, por meio de tratamento, reduzir a sintomatologia.
Os tiques podem ser classificados em vocais e motores e variam entre simples e complexos. São eles: vocal simples (pigarros, estalar de língua, grunhidos e outros ruídos); vocal complexo (expresso por palavras fora do contexto ou palavras de baixo calão, denominado coprolalia); motores simples (piscar os olhos, repuxar a cabeça, fazer caretas) e motores complexos (pular, tocar pessoas e coisas, cheirar coisas e fazer gestos obscenos, denominado copropaxia).
PARA SABER MAIS
Sinais e sintomas
Vontade incontrolável de fazer movimentos ou sons repetitivos.
Piscar os olhos repetidamente.
Morder os lábios constantemente.
Roer as unhas.
Sempre começar ou terminar uma frase com a mesma palavra.
Fazer grunhidos compulsivamente.
Mexer nos cabelos sem parar.
Para quem usa gravata: viver esticando o pescoço como se ela o estivesse enforcando.
Coçar ou puxar o nariz, como se a coriza fosse escorregar.
Arrumar o cinto a toda hora.

imagens: shutterstock
Muitas das pessoas que apresentam tiques nervosos têm sintomas de doenças associadas, tais como transtorno obsessivo-compulsivo; transtorno do déficit de atenção; e distúrbios do sono, entre outros
Doenças psíquicas associadas
Muitas pessoas têm sintomas de doenças associadas (comorbidades), tais como: transtorno obsessivo-compulsivo; transtorno do déficit de atenção; desenvolvimento de distúrbios de aprendizagem; problemas com controle de impulsos; e distúrbios do sono.
Importante saber que para ser considerada síndrome de Tourett e é preciso que coexistam os tiques vocal e motor, que eles não desapareçam em um ano e constem de um histórico natural de evolução dos tiques desde a infância. Por exemplo: se uma criança que tem esse transtorno/síndrome estiver ansiosa por algum motivo na escola, a ansiedade modulará a intensidade dos tiques, aumentando o grau e a intensidade dos movimentos involuntários.
Interferência emocional
Cacoetes são manifestações involuntárias, que podem ser motoras, sonoras ou de linguagem, e que acabam trazendo determinados desconfortos sociais para quem os possui e para o outro que percebe e convive. Muitas vezes, os chamados cacoetes tornam- -se motivo de chacotas na vida social. Pessoas portadoras desses sinais podem apresentar comportamentos mais introspectivos devido ao seu problema.
É preciso destacar que um tique que começou após um traumatismo ou AVC não pode ser considerado Tourett e. Vale lembrar que o tique não é fixo e pode mudar com o tempo, começando com um piscar de olhos e se transformando em um movimento com a cabeça. A síndrome também tem intensidades variadas e funciona em ciclos, por isso acontece de um cacoete não se manifestar por um curto período de tempo.
O cacoete, geralmente, surge na infância, até os sete anos, e pode regredir com o amadurecimento
Para um tratamento adequado, o ideal é contar com psiquiatra, neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo e neuropsicopedagogo, pois a visão multiprofissional com interesse nesses comportamentos pode ajudar a modular a ansiedade dessa criança.
A família e a escola juntas devem realizar um trabalho sobre os sintomas da síndrome logo que a criança manifestar tais sinais, que na grande maioria das vezes começam na infância e na vida escolar. A princípio, o cacoete se manifesta como um hábito aparentemente normal, depois torna-se constante e repetitivo. Alguns pais ou educadores acreditam que muitas vezes esses sinais passam com o tempo - o que pode ser considerado uma inverdade, pois isso pode esconder sintomas que precisam ser acompanhados. Por isso é fundamental reconhecer que quanto mais cedo se identifica, melhor ajuda se dará à criança. É importante que a criança tenha consciência, pois isso ajuda a dar conta do que acontece com ela. Uma coisa é certa: quanto mais reforçada a baixa autoestima relacionada a esse problema, mais ansiosa a criança pode ficar, então a intensidade dos tiques pode piorar.
Os tiques podem ser classificados em vocais e motores e variam entre simples e complexos

Como controlar
Considerados de fundo emocional, os cacoetes também podem advir deacidente vascular cerebral, traumatismo craniano ou, ainda, de causa neurobiológica, e trazem um profundo grau de ansiedade a quem os tem. O tratamento consiste na identificação dos gatilhos, hábitos e vícios que desencadeiam os sinais e sintomas (queixas e observações) e têm como finalidade oferecer pistas para um acompanhamento terapêutico, com a intenção de minimizar conflitos intrínsecos, extrínsecos e sociais que impliquem na qualidade de vida do indivíduo. Outras dicas podem contribuir para isso:
Prestar atenção nos seus movimentos, para que ele deixe de passar despercebido.
Quando se perceber fazendo o cacoete: parar na hora.
Quando a pessoa domina a vontade, o cacoete deixa de ser involuntário. E assim, aos poucos vai realizando uma nova programação para o cérebro. Não é fácil, mas é possível!

Fonte:http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/82/artigo271900-1.asp

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