Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece ao princípio do prazer: a pessoa reconhece os impulsos como seus e se lança a realizar o ato porque vai sentir prazer
Por Roberte Metring
Texto retirado da Revista Psique. Ed.82- 2012.
O impulso é uma
percepção psíquica súbita de um desejo que impele o indivíduo à
realização não planejada, de um ato que resulta no alívio da tensão ou
uma satisfação prazerosa
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Por acaso já se pegou puxando cabelos brancos do braço ou da cabeça para não delatar a idade? Já ruminou uma música por um tempo considerável, até que ela se tornasse chata em sua mente? Já voltou para ver se tinha mesmo fechado a porta da sua casa ou desligado a chama do fogão? Já brincou de colocar fogo em coisas quando era criança? Já apostou num inocente jogo de cartas de baralho com alguém? Já tentou se livrar de um pensamento que não o abandona? Já se viu praticando alguma mania como arrumar os óculos ou os cabelos várias vezes, mesmo sabendo que não era necessário, mas porque simplesmente parecia impossível controlar a vontade?
É bem possível que você tenha respondido sim a várias dessas perguntas. Calma! Isso não significa que você sofre de comportamento compulsivo ou transtorno de controle do impulso (TCI).
● Oneomania ● (comprador compulsivo): do grego onéo, que significa comprar, a pessoa apresenta um excesso de preocupações e desejos relacionados com uma necessidade incontrolável de comprar e gasta mais do que pode, e/ou com coisas desnecessárias, ou seja, uma mania de comprar ou de gerar ônus. Essas preocupações perturbam o cotidiano do sujeito, pois consomem tempo significante e interferem no funcionamento social e laboral, resultando quase sempre em maiores problemas financeiros. Prevalência alta em mulheres (80% a 95% versus 5% a 20% em homens), sem distinção de escolaridade ou classe social. |
Atente ao fato de todo comportamento normal poder deslizar para um comportamento compulsivo, porém nenhum comportamento compulsivo é normal, a não ser entre aqueles que estão no mesmo contexto, no mesmo tipo de comportamento, que devem achar pouco normal viver uma vida sem muitos problemas de compulsividade.Pesquisas indicam que o comportamento compulsivo, de forma geral, se apresenta associado a transtornos de humor e de ansiedade. Também existem pesquisas que indicam o TCI como uma forma de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), embora não haja concordância plena sobre isso, já que no TOC os sintomas costumam provocar a ansiedade, gerando algum tipo de sofrimento para o indivíduo na execução do ato, que normalmente ele desejaria evitar mas que não consegue por ser a única forma encontrada para aliviar a tensão, a angústia e a ansiedade. Esse comportamento realizado no TOC é gerado por uma questão obsessiva, intrusiva, que é perfeitamente questionável pela pessoa, embora não controlável, portanto, considerado egodistônico - aquilo que não é dela, que vem de fora.
Um comportamento compulsivo (ou TCI) é classificado como falha da pessoa no controle de seus impulsos
Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se
desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece a outro princípio, o
princípio do prazer. A pessoa não questiona se os impulsos são seus, ela
os reconhece como seus - uma questão egosintônica - e se lança a
realizar o ato porque vai sentir prazer naquilo e portanto para essa
pessoa é fácil criar explicações para seus pensamentos ou
comportamentos, mesmo que eles sejam nada adaptativos ao meio ou à sua
posição. Essa pessoa não deseja neutralizar nada, deseja é sentir prazer
realizando aquele ato.
Sintomas do TCI
Segundo o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4ª edição),a característica mais evidente do TCI é o fracasso da pessoa em resistir à tentação de praticar algum ato, seja de forma premeditada/planejada ou não.
Nos momentos anteriores ao ato há uma crescente sensação de tensão ou excitação e, durante a realização dele, uma experiência de prazer, gratificação ou alívio.
Após a realização do ato não é raro que sobrevenha o arrependimento, a autorrecriminação ou a culpa, porém não é condição imperiosa que esses sentimentos ocorram, podendo mesmo não ocorrer, e se ocorrem não impedem a pessoa de realizar tudo novamente, pelo prazer que sente com o comportamento.
Impulso, obsessão, compulsão
Por impulso, nos referimos à percepção psíquica súbita de um desejo que se energiza impelindo o indivíduo à realização urgente e experimental, não planejada, de um ato ou comportamento que deve ter, como resultado, o alívio da tensão ou uma satisfação prazerosa. Em condições normais é isso o que ocorre, e o aparelho psíquico, agora aliviado da tensão, de uma forma ajustada, está pronto para a geração de outro ato ou comportamento de acordo com as necessidades e circunstâncias de vida do indivíduo.
Por impulso, nos referimos à percepção psíquica súbita de um desejo que se energiza impelindo o indivíduo à realização urgente e experimental, não planejada, de um ato ou comportamento que deve ter, como resultado, o alívio da tensão ou uma satisfação prazerosa. Em condições normais é isso o que ocorre, e o aparelho psíquico, agora aliviado da tensão, de uma forma ajustada, está pronto para a geração de outro ato ou comportamento de acordo com as necessidades e circunstâncias de vida do indivíduo.
Pesquisas indicam que o comportamento compulsivo, de forma geral, se apresenta associado a transtornos do humor e de ansiedade
Porém, nem sempre é assim que as coisas acontecem. Por vezes, o
processo foge do controle e os impulsos começam a se tornar irrefreados
como se ganhassem vida própria. Inicia-se uma sequência descontrolada e
desenfreada do par impulso-ação que se retroalimenta sem um fim em si
mesmo, conduzindo ao que passamos a chamar de comportamento compulsivo.
Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece a outro princípio, o princípio do prazer
Na compulsão, o
indivíduo é levado a praticar um ato por um impulso interno muito
poderoso. A não realização do ato traz sentimento de angústia e aumento
da pressão psíquica, que podem se tornar intoleráveis e desestruturantes
do próprio psiquismo
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● Automutilação ● A agressão ao próprio corpo é intencional, sem no entanto desejar conscientemente chegar ao suicídio, com o uso de técnicas de baixa letalidade: cortar a pele (70%), bater em si mesmo (40%) e queimar-se de alguma forma (entre 15% e 35%). Estudos identificaram que pessoas abusadas emocional, física ou sexualmente na infância, que sofreram bulling na adolescência, que apresentam sintomas depressivos, ansiedade, impulsividade e baixa autoestima, que já tenham apresentado ideação ou tentativa de suicídio estão entre os que desenvolvem esse comportamento compulsivo. |
Mas pode também ocorrer o contrário.
Essa sequência impulso-ação, por motivos vários, pode começar a interagir com mecanismos psíquicos de controle - os mecanismos de defesa do Ego. Esses mecanismos têm o objetivo de proteger o aparelho psíquico do sofrimento, da aflição ou da descompensação. Essa nova associação não consegue impedir a geração do impulso, já que o desejo emerge de camadas menos conscientes do aparelho psíquico, mas consegue impedir que seja gerado o ato ou o comportamento que aliviaria a tensão. Nesse caso não teremos como resultado um comportamento compulsivo, como no anterior, mas sim outros quadros neuróticos, como por exemplo as fobias, que delatam ao mesmo tempo o desejo e o medo de realizar alguma coisa, portanto para não cometer o proibido é melhor se afastar do lugar, da situação, das pessoas que possam eliciar esse ato.Obsessões referem-se a ideias, imagens, impulsos ou pensamentos intrusivos e repetitivos, indesejados e exagerados, que produzem ansiedade e desconforto para o indivíduo. A obsessão tem caráter egodistônico, e apesar de reconhecida como indesejável, a pessoa não consegue exercer controle sobre sua presença. A única forma de controle é gerar um comportamento que alivie a tensão, porém o próprio comportamento acaba por gerar ainda mais angústia e ansiedade, já que a pessoa reconhece que não deveria estar fazendo aquilo, que não é do seu desejo, ativando um circuito de retroalimentação que se torna, então, incontrolável pela pessoa, a não ser que se submeta a tratamento, normalmente psicológico e psiquiátrico. A obsessão é característica do TOC, tem classificação própria para diagnóstico, então não é estudada como um TCI.
Essa sequência impulso-ação, por motivos vários, pode começar a interagir com mecanismos psíquicos de controle - os mecanismos de defesa do Ego. Esses mecanismos têm o objetivo de proteger o aparelho psíquico do sofrimento, da aflição ou da descompensação. Essa nova associação não consegue impedir a geração do impulso, já que o desejo emerge de camadas menos conscientes do aparelho psíquico, mas consegue impedir que seja gerado o ato ou o comportamento que aliviaria a tensão. Nesse caso não teremos como resultado um comportamento compulsivo, como no anterior, mas sim outros quadros neuróticos, como por exemplo as fobias, que delatam ao mesmo tempo o desejo e o medo de realizar alguma coisa, portanto para não cometer o proibido é melhor se afastar do lugar, da situação, das pessoas que possam eliciar esse ato.Obsessões referem-se a ideias, imagens, impulsos ou pensamentos intrusivos e repetitivos, indesejados e exagerados, que produzem ansiedade e desconforto para o indivíduo. A obsessão tem caráter egodistônico, e apesar de reconhecida como indesejável, a pessoa não consegue exercer controle sobre sua presença. A única forma de controle é gerar um comportamento que alivie a tensão, porém o próprio comportamento acaba por gerar ainda mais angústia e ansiedade, já que a pessoa reconhece que não deveria estar fazendo aquilo, que não é do seu desejo, ativando um circuito de retroalimentação que se torna, então, incontrolável pela pessoa, a não ser que se submeta a tratamento, normalmente psicológico e psiquiátrico. A obsessão é característica do TOC, tem classificação própria para diagnóstico, então não é estudada como um TCI.
A obsessão tem caráter egodistônico, e apesar de reconhecida como indesejável, a pessoa não consegue exercer controle sobre sua presença
O compulsivo,
após a realização do ato, pode ficar ou não arrependido, mas,
independentemente disso, nenhum sentimento o impedirá de realizar tudo
novamente, pelo prazer que sente com o comportamento
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Quando o indivíduo cede à compulsão surge o
comportamento compulsivo, uma forma de aliviar tensões psíquicas, que se
torna viciada e descontrolada. Lembremo-nos que a diferença entre o TOC
e o TCI se constitui basicamente no fato de o comportamento compulsivo
no TOC ter origem egodistônica, ser ritualizado, visar a redução da
ansiedade do sofrimento. No TCI, a origem é egosintônica e normalmente
gera sensação de prazer ou satisfação na sua realização.
São exemplos de comportamento compulsivo,
classificados no DSM-IV e na CID-10 (Classi cação Internacional de
Doenças): transtorno explosivo intermitente, cleptomania, piromania,
jogo patológico, tricotilomania (arrancar os de cabelo ou pelos do
corpo), dermatotilexomania (causar lesões na própria pele), oneomania
(comprar compulsivo), compulsão sexual, compulsão pela internet, amor
patológico, entre outros.
Formas de tratamento
Há duas formas de tratamento possíveis para os casos de comportamento compulsivo: acompanhamento psicoterapêutico e acompanhamento psiquiátrico.
Há duas formas de tratamento possíveis para os casos de comportamento compulsivo: acompanhamento psicoterapêutico e acompanhamento psiquiátrico.
Compulsão tem origem latina - compulsione, compellere - que significa compelir, constranger, forçar, obrigar
A pessoa que apresenta um excesso de preocupações e desejos relacionados com necessidade incontrolável de comprar e gasta mais do que pode e/ou com coisas desnecessárias também sofre de um comportamento compulsivo |
Todas as linhas psicoterapêuticas produzem resultados, mais efetivos e rápidos quando há empatia entre paciente e terapeuta, quando o paciente sinte-se à vontade para trabalhar suas questões utilizando os métodos e técnicas da linha escolhida. O paciente pode optar por atendimento individual ou em grupo.
Fonte: http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/82/artigo271877-1.asp
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