quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

TOC

Comportamento compulsivo
Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece ao princípio do prazer: a pessoa reconhece os impulsos como seus e se lança a realizar o ato porque vai sentir prazer

Por Roberte Metring


Texto retirado da Revista Psique. Ed.82- 2012.


Imagem: Shutterstock

O impulso é uma percepção psíquica súbita de um desejo que impele o indivíduo à realização não planejada, de um ato que resulta no alívio da tensão ou uma satisfação prazerosa

Por acaso já se pegou puxando cabelos brancos do braço ou da cabeça para não delatar a idade? Já ruminou uma música por um tempo considerável, até que ela se tornasse chata em sua mente? Já voltou para ver se tinha mesmo fechado a porta da sua casa ou desligado a chama do fogão? Já brincou de colocar fogo em coisas quando era criança? Já apostou num inocente jogo de cartas de baralho com alguém? Já tentou se livrar de um pensamento que não o abandona? Já se viu praticando alguma mania como arrumar os óculos ou os cabelos várias vezes, mesmo sabendo que não era necessário, mas porque simplesmente parecia impossível controlar a vontade?
É bem possível que você tenha respondido sim a várias dessas perguntas. Calma! Isso não significa que você sofre de comportamento compulsivo ou transtorno de controle do impulso (TCI).
Oneomania
(comprador compulsivo): do grego onéo, que significa comprar, a pessoa apresenta um excesso de preocupações e desejos relacionados com uma necessidade incontrolável de comprar e gasta mais do que pode, e/ou com coisas desnecessárias, ou seja, uma mania de comprar ou de gerar ônus. Essas preocupações perturbam o cotidiano do sujeito, pois consomem tempo significante e interferem no funcionamento social e laboral, resultando quase sempre em maiores problemas financeiros. Prevalência alta em mulheres (80% a 95% versus 5% a 20% em homens), sem distinção de escolaridade ou classe social.
A princípio, e de forma geral, um comportamento compulsivo (ou TCI) é classificado como uma falha da pessoa no controle de seus impulsos. Por isso, mesmo que você tenha respondido com vários sins às questões acima, se isso está totalmente controlado, você sabe o que está fazendo, não lhe causa problemas sociais, profissionais, relacionais, matrimoniais, financeiros etc., você não está sob efeito da compulsividade.
Atente ao fato de todo comportamento normal poder deslizar para um comportamento compulsivo, porém nenhum comportamento compulsivo é normal, a não ser entre aqueles que estão no mesmo contexto, no mesmo tipo de comportamento, que devem achar pouco normal viver uma vida sem muitos problemas de compulsividade.Pesquisas indicam que o comportamento compulsivo, de forma geral, se apresenta associado a transtornos de humor e de ansiedade. Também existem pesquisas que indicam o TCI como uma forma de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), embora não haja concordância plena sobre isso, já que no TOC os sintomas costumam provocar a ansiedade, gerando algum tipo de sofrimento para o indivíduo na execução do ato, que normalmente ele desejaria evitar mas que não consegue por ser a única forma encontrada para aliviar a tensão, a angústia e a ansiedade. Esse comportamento realizado no TOC é gerado por uma questão obsessiva, intrusiva, que é perfeitamente questionável pela pessoa, embora não controlável, portanto, considerado egodistônico - aquilo que não é dela, que vem de fora.
Um comportamento compulsivo (ou TCI) é classificado como falha da pessoa no controle de seus impulsos
Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece a outro princípio, o princípio do prazer. A pessoa não questiona se os impulsos são seus, ela os reconhece como seus - uma questão egosintônica - e se lança a realizar o ato porque vai sentir prazer naquilo e portanto para essa pessoa é fácil criar explicações para seus pensamentos ou comportamentos, mesmo que eles sejam nada adaptativos ao meio ou à sua posição. Essa pessoa não deseja neutralizar nada, deseja é sentir prazer realizando aquele ato.

Sintomas do TCI
Segundo o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4ª edição),a característica mais evidente do TCI é o fracasso da pessoa em resistir à tentação de praticar algum ato, seja de forma premeditada/planejada ou não.
Nos momentos anteriores ao ato há uma crescente sensação de tensão ou excitação e, durante a realização dele, uma experiência de prazer, gratificação ou alívio.
Após a realização do ato não é raro que sobrevenha o arrependimento, a autorrecriminação ou a culpa, porém não é condição imperiosa que esses sentimentos ocorram, podendo mesmo não ocorrer, e se ocorrem não impedem a pessoa de realizar tudo novamente, pelo prazer que sente com o comportamento.
Impulso, obsessão, compulsão
Por impulso, nos referimos à percepção psíquica súbita de um desejo que se energiza impelindo o indivíduo à realização urgente e experimental, não planejada, de um ato ou comportamento que deve ter, como resultado, o alívio da tensão ou uma satisfação prazerosa. Em condições normais é isso o que ocorre, e o aparelho psíquico, agora aliviado da tensão, de uma forma ajustada, está pronto para a geração de outro ato ou comportamento de acordo com as necessidades e circunstâncias de vida do indivíduo.
Pesquisas indicam que o comportamento compulsivo, de forma geral, se apresenta associado a transtornos do humor e de ansiedade
Porém, nem sempre é assim que as coisas acontecem. Por vezes, o processo foge do controle e os impulsos começam a se tornar irrefreados como se ganhassem vida própria. Inicia-se uma sequência descontrolada e desenfreada do par impulso-ação que se retroalimenta sem um fim em si mesmo, conduzindo ao que passamos a chamar de comportamento compulsivo.

Se no TOC o objetivo é aliviar a tensão e se desfazer da ansiedade, no TCI a ação obedece a outro princípio, o princípio do prazer
Na compulsão, o indivíduo é levado a praticar um ato por um impulso interno muito poderoso. A não realização do ato traz sentimento de angústia e aumento da pressão psíquica, que podem se tornar intoleráveis e desestruturantes do próprio psiquismo

Automutilação
A agressão ao próprio corpo é intencional, sem no entanto desejar conscientemente chegar ao suicídio, com o uso de técnicas de baixa letalidade: cortar a pele (70%), bater em si mesmo (40%) e queimar-se de alguma forma (entre 15% e 35%). Estudos identificaram que pessoas abusadas emocional, física ou sexualmente na infância, que sofreram bulling na adolescência, que apresentam sintomas depressivos, ansiedade, impulsividade e baixa autoestima, que já tenham apresentado ideação ou tentativa de suicídio estão entre os que desenvolvem esse comportamento compulsivo.
Mas pode também ocorrer o contrário.
Essa sequência impulso-ação, por motivos vários, pode começar a interagir com mecanismos psíquicos de controle - os mecanismos de defesa do Ego. Esses mecanismos têm o objetivo de proteger o aparelho psíquico do sofrimento, da aflição ou da descompensação. Essa nova associação não consegue impedir a geração do impulso, já que o desejo emerge de camadas menos conscientes do aparelho psíquico, mas consegue impedir que seja gerado o ato ou o comportamento que aliviaria a tensão. Nesse caso não teremos como resultado um comportamento compulsivo, como no anterior, mas sim outros quadros neuróticos, como por exemplo as fobias, que delatam ao mesmo tempo o desejo e o medo de realizar alguma coisa, portanto para não cometer o proibido é melhor se afastar do lugar, da situação, das pessoas que possam eliciar esse ato.Obsessões referem-se a ideias, imagens, impulsos ou pensamentos intrusivos e repetitivos, indesejados e exagerados, que produzem ansiedade e desconforto para o indivíduo. A obsessão tem caráter egodistônico, e apesar de reconhecida como indesejável, a pessoa não consegue exercer controle sobre sua presença. A única forma de controle é gerar um comportamento que alivie a tensão, porém o próprio comportamento acaba por gerar ainda mais angústia e ansiedade, já que a pessoa reconhece que não deveria estar fazendo aquilo, que não é do seu desejo, ativando um circuito de retroalimentação que se torna, então, incontrolável pela pessoa, a não ser que se submeta a tratamento, normalmente psicológico e psiquiátrico. A obsessão é característica do TOC, tem classificação própria para diagnóstico, então não é estudada como um TCI.
A obsessão tem caráter egodistônico, e apesar de reconhecida como indesejável, a pessoa não consegue exercer controle sobre sua presença
O compulsivo, após a realização do ato, pode ficar ou não arrependido, mas, independentemente disso, nenhum sentimento o impedirá de realizar tudo novamente, pelo prazer que sente com o comportamento
Compulsão, etimologicamente, tem origem latina - compulsione, compellere - que significa compelir, constranger, forçar, obrigar. No vocabulário freudiano, compulsão refere-se a uma força interna que impera no indivíduo, compelindo-o a realizar frequentemente uma ação, produzir um pensamento, ou mesmo gerar uma operação defensiva, ou tudo isso junto. Clinicamente, compulsão refere-se a uma conduta - um ato, uma ação, um comportamento ou um pensamento - que o indivíduo é levado a praticar por um impulso interno muito poderoso, ou uma obsessão, dos quais perde o controle, já que a não realização do ato traz sentimento de angústia e aumento da pressão psíquica, que podem se tornar intoleráveis e desestruturantes do próprio psiquismo.
Quando o indivíduo cede à compulsão surge o comportamento compulsivo, uma forma de aliviar tensões psíquicas, que se torna viciada e descontrolada. Lembremo-nos que a diferença entre o TOC e o TCI se constitui basicamente no fato de o comportamento compulsivo no TOC ter origem egodistônica, ser ritualizado, visar a redução da ansiedade do sofrimento. No TCI, a origem é egosintônica e normalmente gera sensação de prazer ou satisfação na sua realização.
São exemplos de comportamento compulsivo, classificados no DSM-IV e na CID-10 (Classi cação Internacional de Doenças): transtorno explosivo intermitente, cleptomania, piromania, jogo patológico, tricotilomania (arrancar os de cabelo ou pelos do corpo), dermatotilexomania (causar lesões na própria pele), oneomania (comprar compulsivo), compulsão sexual, compulsão pela internet, amor patológico, entre outros.
Formas de tratamento
Há duas formas de tratamento possíveis para os casos de comportamento compulsivo: acompanhamento psicoterapêutico e acompanhamento psiquiátrico.
Compulsão tem origem latina - compulsione, compellere - que significa compelir, constranger, forçar, obrigar
A pessoa que apresenta um excesso de preocupações e desejos relacionados com necessidade incontrolável de comprar e gasta mais do que pode e/ou com coisas desnecessárias também sofre de um comportamento compulsivo
O acompanhamento psicoterapêutico vai trabalhar com a revisão e clarificação dos conteúdos subjetivos presentes nas manifestações compulsivas do comportamento. O psicólogo é o profissional que vai conduzir um processo, com base científica comprovada, para levar o paciente a compreender as causas do seu comportamento ou sofrimento, ajudando a encontrar formas de superá-los.
Todas as linhas psicoterapêuticas produzem resultados, mais efetivos e rápidos quando há empatia entre paciente e terapeuta, quando o paciente sinte-se à vontade para trabalhar suas questões utilizando os métodos e técnicas da linha escolhida. O paciente pode optar por atendimento individual ou em grupo.


 Fonte: http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/82/artigo271877-1.asp



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