segunda-feira, 13 de abril de 2015

A hora da independência

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Revista Psique , Edição 111.
Um dos momentos mais difíceis na criação dos filhos é quando crescem e passam a reivindicar o direito de frequentar festas e baladas noturnas sem a presença dos pais. A fase é importante, mas requer cautela


Por Júlio Furtado

Shutterstock
Uma grande amiga ligou-me angustiada dizendo que seu filho de 13 anos estava pressionando para começar a sair sozinho com os colegas à noite. A angústia se revelou, principalmente, pelo tom de sua pergunta: "E agora, o que eu faço?". Tentei acalmá-la, perguntando se ela nunca havia cogitado que esse dia iria chegar.
Uma das mais difíceis constatações para os pais é a de que seus filhos estão crescendo. Talvez essa dificuldade se justifique pela fantasia de que filhos são propriedade dos pais e, como tais, deveriam se manter crianças para serem mais facilmente manipulados. A chegada da adolescência se enche de expectativa exatamente porque é nessa fase que o recém-jovem ou a ainda criança começa a dar sinais de que quer ser independente e de que não tolera mais o excesso de cuidados nos moldes que vinham sendo aplicados.
Nesse contexto, chega o dia da temida pergunta: "Posso ir à festa com meus amigos? Todos vão e eu não posso ficar de fora!". Em geral, é por volta dos 12 anos que começam a surgir os primeiros convites para festas de aniversário em que pai e mãe não são bem-vindos. Encarar o momento como um passo natural para a evolução do adolescente é fundamental para encarar a situação com a serenidade que ela exige.
Festas, bailes e outras saídas noturnas cumprem um papel essencial no processo de construção e conquista da autonomia para os jovens. Embora seja difícil, é imprescindível entender que os filhos precisam se afastar para construir autoconfiança e experimentar a vida de outra forma.
É normal, nessa fase, que eles se soltem dos pais e não queiram conviver tanto quanto ocorria durante a infância. Isso não significa que não gostem ou gostem menos dos pais. Representa, apenas, uma forte busca por independência e autonomia. É claro que não dá para "liberar geral", mas se deve permitir que os adolescentes tenham experiências novas, em função das quais vão construir sua identidade.
Ainda em relação à angustiante questão inicial, de permitir ou não que os filhos adolescentes comecem a frequentar "baladas" sozinhos, o mais indicado é dialogar com eles desde a infância. Isso para se chegar a acordos para determinar a idade em que poderão começar a sair sem os pais. Nesse momento, outra pergunta aparece: "Como saber se meu filho está maduro ou não para sair sozinho?".
É preciso entender que esse amadurecimento não é algo que acontece da noite para o dia e é fundamental ir preparando o terreno desde cedo. Esse processo será muito mais fácil se há confiança nele. As atitudes do adolescente que demonstram que já se pode confiar nele para sair sozinho são aquelas que demonstram responsabilidade e que já se apresentam a partir da infância. Ao dormir na casa de colegas ou de familiares ele cuidava bem dos seus pertences? Ligava para você nas horas combinadas? Avisava sobre mudanças nos planos com antecedência? Se a resposta a essas perguntas for sim, há grande chance de não ter problemas nessa nova fase.
É fundamental observar o comportamento do adolescente nas primeiras vezes. Ele está esperando quando os pais vão buscá-lo na hora e local combinados? Atende ao telefone quando os pais ligam ou telefona quando é combinado? Além disso, é sempre importante checar qual é o tipo de festa, se há consumo de bebidas alcoólicas, idade das pessoas que estarão lá etc. Agir preventivamente sem exageros é papel dos pais.
Também é preciso ter cuidado para não demonstrar desconfiança. É preciso se certificar de que o filho está em segurança, o que é bem diferente de vigiá-lo. A sensação de ser vigiado aborrece o adolescente e pensar que os pais não confiam nele faz com que ele se descomprometa com o bom comportamento. Afinal, ele pensa, os pais vão desconfiar dele de qualquer maneira. Uma boa saída nesses casos é dizer que os pais querem se assegurar que ele estará em segurança, mas não se deve agir às escondidas. Outro fator a ser ressaltado é a necessidade de se combinar o horário de volta para casa e acordar, antecipadamente, quais serão as punições caso o combinado não seja cumprido e, se preciso for, cumprir a punição sem culpas.
Festas, bailes e outras saídas noturnas cumprem um papel essencial no processo de construção e conquista da autonomia para os jovens. Embora seja difícil, é imprescindível entender que os filhos precisam se afastar para construir autoconfiança e experimentar a vida de outra forma
É importante fixar um horário para o retorno e, em geral, deve ser proporcional à idade. Quanto mais jovem, mais cedo. É essencial, também, que os pais vinculem a possibilidade de estender o horário de volta ao cumprimento do que foi combinado e, a medida que se comportem com responsabilidade, ganham, digamos, bônus de mais liberdade. Quando os filhos são mais novos, levar e buscar é outra questão conflituosa, mas que exige análise e ponderação. Se o local da festa for desconhecido, não hesite em levar e buscar. Caso seja conhecido, vale combinar rodízio de carona solidária com os pais dos colegas.
O início da vida social autônoma do adolescente precisa ser encarado como uma fase natural, necessária e importante no desenvolvimento. É fundamental que os pais se mostrem parceiros, mas é igualmente essencial que negociem com firmeza questões inerentes a essa nova fase. É exatamente isso que eles esperam de nós.

Júlio Furtado é diplomado em Psicopedagogia pela Universidade de Havana, Cuba. Graduado em Pedagogia, mestre em Educação, doutor em Ciências da Educação e pós-graduado em Orientação Educacional. É palestrante e escritor.
www.juliofurtado.com.br


http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/111/artigo342588-1.asp

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