Última parte do artigo: Perversões ou Perversão
Por Geraldino Alves Ferreira Netto
Depois de Freud, de 1930 a 1960, seus discípulos continuaram a estudar a perversão, mas abdicaram do espírito do mestre, a ponto de proibir os perversos, agora identificados aos homossexuais, de praticar a psicanálise em todas as sociedades ligadas à IPA, sob o pretexto de que poderiam prejudicar os pacientes, numa época em que nem mais a psiquiatria encarava as perversões com moralismo.
Com Lacan, a perversão ganha status inconteste de estrutura, juntamente com a neurose e a psicose, que passam a ser pensadas como versões diferentes da relação do sujeito com a lei da castração, cada versão podendo ser chamada de Père-version, a versão do Pai.
Ligado à tradição da poesia erótica, da filosofia de Platão e da corrente libertina na literatura, Lacan afirmava que somente os perversos sabem falar da perversão. Além disso, Lacan aprofunda dois conceitos da psicanálise, o desejo e o gozo, dizendo que a perversão é uma componente do funcionamento psíquico do homem e da mulher, um desafio permanente à lei.
Em 1956, no seminário sobre A relação de objeto, que é mais uma teoria da falta de objeto, esclarece que, se existe alguma inversão (termo usado por Freud), é a inversão (ou deslocamento) do simbólico pelo imaginário, característica da perversão. É assim que Lacan interpreta a afirmação de Freud, segundo a qual a neurose é o negativo da perversão:
" Aquilo que estava articulado de maneira latente no nível do grande Outro começa a se articular de maneira imaginária, à maneira de perversão, e é, aliás, por essa razão e não por outra que isso vai resultar numa perversão" (p.120).
Como consequência dessa inversão e do desmentido, a perversão vai se caracterizar pela dessubjetivação:
" Resta, com efeito, uma dessubjetivação radical de toda a estrutura, em cujo nível o sujeito ali está reduzido ao estado de espectador. (...) No nível da fantasia perversa, todos os elementos estão lá, mas tudo o que é significação está perdido, a saber, a relação intersubjetiva. O que se pode chamar de significantes em estado puro mantém-se sem a relação intersubjetiva. (...) Vocês vão encontrar aí o que eu chamei de metonímia, que consiste em dar a escutar alguma coisa, falando de uma coisa completamente diferente. (...) Existe aí como que uma redução simbólica, que eliminou progressivamente toda a estrutura subjetiva. (...) Trata-se de um jogo de tapeação", um falso pacto.
Nesse ponto, Lacan está comentando o texto freudiano "Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina", de 1920, que ele denomina "A jovem homossexual": Uma moça decide aproximar-se de uma prostituta, com a qual supostamente inicia uma relação amorosa. Saem as duas ostensivamente pelas ruas, de mãos dadas. A prostituta, ao que tudo indica, está envolvida apaixonadamente. Mas a moça não quer outra coisa que se exibir com ela para impressionar o próprio pai, do qual estaria assim exigindo um outro tipo de atenção, a saber, um amor desinteressado, como o dos homossexuais, do qual não se pode esperar um filho. Ao ser duramente recriminada pelo pai, ela ameaça suicidar-se, justamente na hora em que sua mãe estava às vésperas de ter um filho dele.
O que caracteriza este caso como perversão não tem nada a ver com as possíveis ou supostas ‘transas’ sexuais aí envolvidas, mas sim com o fato de que a moça usou a prostituta como instrumento para conseguir objetivos totalmente outros, camuflados num interesse sexual, e que não foram devidamente explicitados. É o jogo da tapeação.
Texto retirado do site: http://www.psicanaliseemcurso.com.br
Olá Andréia Miglioranza Marin, tudo bem? Adorei o seu blog, e gostaria muito de conversar contigo, sou fetichista, tenho os cabelos femininos como objeto de fetiche, vi que vc é psicanalista, e adoraria a sua ajuda, se for possível, me envie um e-mail: kurtdonald182@gmail.com desde já agradeço a atenção, tenha uma ótima semana.
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